Alexandre Kaup – Médico neurologista do Centro de Bloqueio Neuroquímico do Hospital Albert Einstein -
O dia 30 de agosto é o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (EM), uma doença neurológica, crônica e autoimune que faz com que as células de defesa do organismo ataquem o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares, que causam diversos sintomas debilitantes. No cenário atual, tendo a pandemia do novo coronavírus como pano de fundo, ainda existem dúvidas sobre como proceder com os tratamentos e reabilitações dos pacientes com EM.
De acordo com o Brazilian Committee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis (BCTRIMS), o risco de pacientes com EM manifestarem a forma mais grave da COVID-19 permanece incerto, assim como se as medicações utilizadas no tratamento podem ou não aumentar o risco de desenvolver os sintomas mais graves.”Cada paciente e seu tratamento são únicos. O mais indicado é sempre manter o contato com o seu médico e entender os riscos e os cuidados. No caso de o tratamento ser feito com imunossupressores, é necessário entender que o seu sistema imunológico está com a atividade ou eficiência diminuída, o que facilita a contaminação. O mais importante é não parar o tratamento, seguir a orientação médica e tomar todos os cuidados necessários para esse momento”. Os medicamentos para a EM tem como objetivo reduzir as inflamações e os surtos ao longo dos anos, diminuindo o acúmulo de incapacidade durante a vida do paciente e deve ser prescrito pelo neurologista.”Atualmente, o que temos são medicamentos imunomoduladores, imunossupressores, os interferons e o acetato de glatirâmer que são utilizados para redução de surtos e estabilização da doença”, complementa o médico que visam diminuir a agressão a mielina e reduzir a atividade do sistema imunológico do paciente. A pulsoterapia com corticoides é utilizada em caso de surtos.
Além do tratamento medicamentoso, parte importante do tratamento são as terapias de apoio complementares e a neurorreabilitação. Esses dois pilares do tratamento da EM são essenciais para a saúde do paciente, pois, enquanto a neurorreabilitação foca na adaptação, recuperação e prevenção dos sintomas e sequelas mais graves da EM, ao longo do tempo, as terapias de apoio promovem o bem-estar físico e emocional do paciente.
Dentre os sintomas mais comuns da EM estão:
• Fadiga: manifesta-se por um cansaço intenso e momentaneamente incapacitante;
• Alteração fonoaudiológicas: alterações ligadas à fala e à deglutição que podem surgir no início da doença ou no decorrer dos anos;
• Problemas de equilíbrio e coordenação: se manifestam com instabilidade ao caminhar, vertigem, náuseas e fraqueza geral;
• Espasticidade: rigidez por aumento da resistência ao movimento, principalmente nos membros inferiores. Pode se associar a sensação de queimação, formigamento e comumente à dor intensa;
• Transtornos emocionais: depressão, ansiedade, transtorno de humor e irritabilidade.
Em um cenário sem COVID-19, as terapias e a reabilitação para esses sintomas são feitas em consultórios e hospitais, mas o “novo normal” exige que algumas concessões sejam feitas. As terapias envolvendo psicologia, arteterapia, fonoaudiologia e até mesmo as fisioterapias ganharam uma ajuda da tecnologia para que os pacientes não fiquem desassistidos nesse momento, com sessões e dicas on-line para que eles continuem progredindo. A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) oferece, em sua aba de SPAbem no site da associação (http://abem.org.br/), uma lista completa de terapias que podem ser feitas de forma remota e com orientações de profissionais engajados. Em alguns casos específicos, como de pacientes com espasticidade que precisam fazer o uso da toxina botulínica A, não é possível fazer o tratamento de casa ou de forma remota, já que é necessário um profissional de saúde especializado para fazer as aplicações.
“Em linhas gerais, o que queremos deixar claro é que nenhum tratamento deve ser parado devido à pandemia sem orientação médica, principalmente as terapias que auxiliam na qualidade de vida dos pacientes e que mostram mais resultados quando seguidas de forma regular”.
A recomendação é que os pacientes não saiam de casa sem necessidade, mas quando o fizerem, que tomem todos os cuidados necessários durante esse período, que inclui:
• Use a máscara durante todo o período fora de casa / • Evite tocar o rosto e os olhos / • Evite receber visitas / • Lave bem as mãos ou utilize álcool gel / • Quando retornar para a casa, tire os sapatos e a roupa e tome banho / • Converse com seu médico em caso de sintomas tanto da COVID-19 ou de um surto da Esclerose Múltipla