Prof. Lupércio Rizzo – Doutor em filosofia da educação, mestre em educação, especialista em docência e pedagogo -
“Cuidado com o medo, ele gosta de roubar sonhos”. Essa foi a primeira frase que li hoje ao acordar e dar uma olhada no celular. Tive vontade de compartilhar com alguém e então enviei para alguns representantes de turma de meus alunos, quem sabe serviria para alguém. Na verdade, serviu para mim…
O medo e o sonho estão relacionados com a esperança. Só que de formas diferentes.
O medo é importante para a preservação e manutenção de certas condições de vida, nos cuidamos para evitar doenças, evitamos certas situações de risco para nos proteger, nos aprimoramos para manter ou melhorar a capacidade produtiva e com isso preservar as conquistas ou buscar algo novo. Lógico que o medo fora do controle nos paralisa e, de certa forma, nos tira a esperança.
O sonho por sua vez é importante para que possamos pensar para além do que podemos ver. Pensar para além do possível é a forma de aumentar o limite do possível, por isso sonhamos, para manter viva dentro de nós a capacidade de acreditar que a vida vale a pena e que existe sentido em viver. Sonhar é alimentar a esperança. Mas é diferente de esperar.
Mas de que esperança estou falando em um mundo tão cheio de motivos para desesperançar? Nem preciso citar exemplos de motivos para fazer “brochar” o mais esperançoso dos mortais. Por isso Voltaire dizia que “a esperança é o alimento de nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo
Há quem diga que a esperança é como ópio, Nietzsche falou que “ a esperança é o pior dos males, pois ela prolonga o tormento do homem”, mas ele tem motivo para isso porque também dizia que “enquanto houver esperança não haverá solução”.
Essa última frase conversa de maneira provocativa com outra esperança, aquela que Paulo Freire chamava de esperançar. Tanto Nietzsche quanto Freire, cada um à sua maneira, parecem pensar que parar e esperar não traz nenhuma melhoria, conforto ou ganho. Quanto ao resultado do esforço ou o mérito talvez eles discordem, mas uma coisa é certa, parar e esperar é morrer aos poucos por dentro. Esperança não deveria ser espera, mas busca e combustível dos sonhos.
Em tempos complexos, sonhar parece um ato para os fortes, mas se pensarmos bem, qual o tempo não é complexo para quem está vivo? Só temos esse tempo, só temos esses problemas, esses cenários, essas guerras e essas tormentas. Mas também, só temos esses motivos, esses desejos, essas conquistas, essas pessoas, esses fazeres e esses amores.
Nossa época não é a mais difícil nem a mais fácil, é a mais especial porque é nela que vivemos. Que nosso maior medo seja o de não sonhar, para que não morramos, vivos.