Prof. Lupercio Rizzo – Doutor em filosofia da educação, mestre em educação, especialista em docência e pedagogo -
Algumas dores parecem invisíveis. Grandes estragos acontecem de uma forma que nem percebemos. Muitas vezes por não darmos a devida atenção (ou até pelo excesso de atenção) a certas coisas elas se tornam cotidianas, costumeiras e invisíveis. Os números de mortos por uma doença, a violência nas cidades, os pequenos delitos, a flor que não encanta mais, a lua cheia etc.
A vida não é normal. Temos visto muita gente usar a expressão “novo normal”, isso me deixa meio confuso para falar a verdade. Em linhas gerais todos sabem o que isso quer dizer, porém, quando todos sabem e parece ser consenso, temos motivos para coçar a cabeça.
Normal seria aquilo que não chama a atenção por ser costumeiro, algo do tipo “sempre é assim”.
Não vamos ficar elencando coisas ruins para criticar a concepção de normalidade ou de anestesia social. Vale sim a ressalva, normal não quer dizer bom nem ruim, quer dizer apenas que não provoca surpresas. Cada um de nós tem a sua lista do que é normal e criticável. Óbvio que a lista não é igual para todos (isso não seria normal).
Há aqueles que entendem que a meritocracia é normal, outros não. Há aqueles que veem o mundo de forma colorida e outros que pensam que isso não é normal. Por aí vai.
Meu sentimento hoje é de profundo desejo que o normal seja percebermos que pequenas dores invisíveis podem provocar profundos estragos. Que é importante sim o cuidado no contato, mas que isso não represente a distância nas emoções.
Se pequenas dores causam danos enormes, pequenos cuidados provocam verdadeiros milagres.
Bom dia, boa tarde, com licença, por gentileza. Dar passagem, abrir a porta, repetir o que não ficou claro, acolher o diferente, diminuir a diferença. Que isso seja o novo normal.
Que o novo normal seja na verdade o que sabemos ser muito velho e ao mesmo tempo atual e difícil, o respeito e o amor ao próximo. Que no futuro tiremos não apenas as máscaras de pano, mas as máscaras que nos cegam para a humanidade.
Que o novo normal seja a possibilidade de chegar ao final de um dia, fechar os olhos com a alma em paz e dizer apenas “boa noite”. E que ela seja boa para todos…Normal e discretamente rotineira.