Prof. Lupercio Rizzo – Doutor em filosofia da educação, mestre em educação, especialista em docência e pedagogo -
Tem sido difícil dormir. Hoje mudei a tática e ao invés de ir para a cama às três da manhã optei por escrever. Acho que um pouco é reflexo dos tempos que temos vivido, outro pouco do tempo que vivemos dentro de nós. Alguns dirão que dormir direito é disciplina com horários, outros que é modo de vida. Eu não sei…
Vamos aos fatos. Ou, dito de outra forma, aos relatos do dia de hoje. Quem sabe alguém poderá dar uma luz…
Venho comparando nossa vida ao ricochetear de uma bala de revólver disparada contra a parede que faz com que essa bala caminhe freneticamente em diversas direções, sem controle e com enorme intensidade.
No dia que antecedeu essa noite mal dormida (apenas mais uma) tive a notícia da aposentadoria de uma grande amiga de trabalho, uma pessoa que me acolheu e me ensinou muita coisa na Universidade. De todas as coisas que ela me ensinou o olhar carinhoso e atencioso para o próximo foi o mais marcante. Sua saída me fez pensar bastante.
O que há demais em uma aposentadoria? Nada se ela ocorresse em meio a cenários tranquilos e transparentes. Mas, e quando esse apagar de luzes ocorre em meio a incertezas no ambiente de trabalho. Quando pessoas, sonhos, preocupações, angústias são tratadas como números e não se pode planejar o mês seguinte? É mais que um amigo que se despede, é alguém dizendo, para mim chega. Alforria
No meio da noite, indo do sofá para cama, em tempos modernos somos tentados a olhar o celular. Só tinha uma solitária mensagem que dizia exatamente o seguinte: “não sei o que dizer…minha mãe faleceu”. O emitente da mensagem colocada em um grupo de rede social (mais um grupo) é um amigo/colega de quando eu era adolescente. Pessoalmente não nos encontramos a mais de 25 anos. Mas me lembro muito bem se sua mãe. Elza, descanse em paz.
Certamente, voltando a noite mal dormida alguém dirá que as três horas da manhã, saindo do cochilo do sofá, desperto e indo para cama não se deve olhar o celular. Talvez esteja certo, mas voltemos ao amigo que perdeu a mãe. Ele postou a notícia as três, eu enviei uma mensagem de condolência às três e pouco. Ele agradeceu, já são mais de cinco e até o momento ninguém do grupo interagiu (óbvio né). Será que minha mensagem pode ter feito a diferença na triste noite do colega? Nossos tempos vem nos deixando sem resposta sobre o certo e o errado.
Antes de deitar e tentar dormir vejo a imagem do mar invadindo a avenida pertinho da minha casa. Tempos difíceis… Não sei. Fim dos tempos ou sinal dos tempos dirão outros.
Os Tempos Modernos causam angústias desde sempre. Charlie Chaplin já apontava isso em 1936. Engraçado né, passados quase 100 anos e com toda inteligência artificial, a vida retratada por Chaplin certamente é o sonho de consumo de milhões de pessoas pelo mundo. Evoluímos?
É difícil a insônia também para quem convive com quem não dorme. Sim, porque parece que para tudo é necessário ter uma explicação lógica, um motivo que te mantém acordado. A música do Jota Quest diz algo sobre a saudades do que ainda não há. Talvez seja isso, ansiedade pelo que já foi.
Será preciso experimentar um certo torpor para viver os tempos modernos? Cada um no seu tempo vivendo um tempo coletivo.
O risco é dormirmos acordados…