Lupercio Rizzo
Que a vida é marcada por incertezas ninguém discute, talvez não exista um só teórico nas humanidades que contradiga isso. Mas que é complicado lidar com isso, ninguém duvida. Será que a educação poderia ajudar a lidar melhor com as incertezas da vida ou talvez nem deva entrar nessa seara? Penso ser uma boa pergunta…
Existem muitas metáforas que mostram essa situação e que de alguma forma são usadas para nos ensinar, elas estão em todos os lugares e com as redes sociais, vixi, tá cheio! Só que temos enorme dificuldade em aprender de fato essa lição. Sentimos e sofremos do mesmo jeito porque o problema ou revés do momento tende sempre a ser maior que o anterior.
Se bem que vale a pena lembrar: sorrir é melhor que chorar, inclusive exercita mais músculos da face. Porém o que se aprende chorando, sorriso nenhum ensina. E, nas relações humanas, a única coisa mais íntima que o sexo é chorar um pro outro. Talvez então viver uma vida sem incertezas seja viver uma vida “menor”.
Conta-se a história do rapaz que passava repetidas vezes com um cavalo a toda velocidade em frente a um grupo de pessoas. Em uma das passagens as pessoas, aos berros, perguntam a ele para onde estava indo. O rapaz responde que a pergunta deve ser feita ao cavalo porque ele é que sabe onde está indo.
Certa vez eu estava na Via Dutra em São Paulo com um Fusca (adoro), e chovia muito. Lá pelas tantas passei sobre uma poça d’água bem grande. O carro pegou o que se chama de lençol d ‘água. Literalmente você deixa de ser motorista e vira passageiro. O fato é que o Fusca rodou na pista e foi parar na beira da estrada. Um enorme susto.
Viramos passageiros na vida muitas vezes pelos mais variados motivos. Tá aí a pandemia que nos levou como passageiros para uma condição social trágica, trabalhamos em empresas ou setores que mudam, sofrem impactos dos mais diversos e com isso temos mais ou menos atividades, desempregos, oportunidades ou momentos ruins.
Na vida pessoal, temos decepções e surpresas boas. Sofremos pelos eventos que acontecem com quem amamos, nas paixões ficamos literalmente passageiros. Quantas vezes as decisões ou necessidades dos outros nos levam a lugares que não imaginávamos, sorrimos ou choramos. Vibramos de alegria ou nos derretemos em lágrimas. Alegria e sofrimento, paz e angústia. É a vida acontecendo.
Ouvimos muito sobre educação financeira ou educação para o pensar. Talvez educar para a vida passe por planejar menos para nossos filhos, nossos alunos. Criamos e educamos as crianças para que as coisas sejam cada vez menos complicadas e imprevistas. Aprender outro idioma para empregabilidade, boa alimentação e cuidados para evitar doenças. Parques e locais fechados para evitar riscos com estranhos.
Só que a vida ignora tudo isso, talvez por isso a depressão, angústia, ansiedade e as gastrites sejam palavras da moda. Eu estou em quase todas e creio que não estou só.
Parece um paradoxo ou um desserviço, mas suspeito que quanto mais formatamos a educação e a criação das crianças, menos preparamos para vida cheia de incertezas. Por outro lado, sem planejamento ou cuidado, corre-se o risco de tudo ficar mais normal e com isso ficarmos insensíveis? Não sei a resposta.
Sei que sentir, rir, chorar, vibrar, ter seus olhos brilhando e o coração aberto é a melhor forma, talvez a única, de mostrar de fato quem somos. Entre uma certeza e outra, procuramos nos encontrar, deixar de ser passageiro e passar a condutor. Muitas vezes essa condução pode nos levar para dentro de nós e lá, sem a menor cerimônia, encontrar alguém muito especial.