Prof. Lupercio Rizzo – Doutor em filosofia da educação, mestre em educação, especialista em docência e pedagogo –
Pense na imagem de um passarinho que por acaso entrou em um local fechado, uma sala, um refeitório ou qualquer coisa parecida. Agora pensa nesse passarinho tentando sair e batendo de frente com janelas e espaços com vidros. Muitas pessoas já viram essa cena e sabem que ela é dolorosa. Em geral tentamos ajudar, mas é difícil.
As vezes nossos sentimentos parecem nos colocar na posição desse passarinho. Qual seria a maior prisão na qual o ser humano pode ser colocado? No filme “Conde de Monte Cristo”, a masmorra e a escuridão possibilitaram aprendizado e crescimento. Na prisão de vidros e com visibilidade de Bentham descrita por Foucault, chamada de panóptico, a visibilidade tira completamente a liberdade.
Preso na escuridão com liberdade ou colocado na luminosidade as vistas de todos e podendo ver tudo, mas sem liberdade. Que situação né?
Talvez a maior prisão seja aquela que colocamos para nós mesmos. Nossos pensamentos podem ser estradas amplas e com muitas saídas, mas também tem enorme potencial para serem prisões dolorosas e difíceis de escapar. A palavra escapar talvez não seja a melhor, a prisão do pensamento não tem escapatória que não seja encontrar a saída, usar a chave, abrir a porta pelo pensamento.
Em “Corações e mentes” o Titãs nos alerta: “Não existe paz, não existe perdão. Eu não suporto mais violência e paixão. Não aguento mais viver dentro dessa prisão”.
Nossa disputa é dura porque é contra o maior adversário, nós mesmos. Quantos sonhos viram desilusões? Quantas vezes nos escravizamos pela gana de possuir mais coisas? Vendemos nosso tempo e gastamos nosso brilho.
Será que algumas vezes sentimos alegrias incontidas e desejo de compartilhar sentimentos, mas não podemos, somos obrigados a guardar para nós o que na essência nos transborda e nos dá prazer? Alegrias secretas, medos incomunicáveis. Raivas contidas, desejos sublimados. Tristezas disfarçadas, histórias incompletas
Temos que ficar em casa, no aconchego do lar, onde aparentemente temos nossa privacidade garantida, talvez não havíamos notado ao longo do tempo que existe uma privacidade maravilhosa quando estamos no meio da multidão. Aquele olhar perdido do rapaz no vagão do metrô lotado, aquela moça que sentada no ônibus parece estar com a cabeça em outro mundo.
Não pode existir paz nem plenitude no passarinho que quer voar, mas a parede é de vidro, dura e invisível. Nossa cabeça, paraíso, prisão, alegria e ruína.